Vivemos nossos primeiros 67 anos de independência política sobre a égide do Império (Primeiro e Segundo Reinados, e ainda um Período Regencial). Em 1889 um golpe destituiu o Imperador Dom Pedro II e instituiu o modelo republicano em nosso país. Um golpe organizado pela elite civil e que teve como principal motor a participação dos militares, que tinham ganhado autonomia e conhecimento sobre o modelo republicano durante a Guerra do Paraguai.
A República (res=coisa, public=pública, sendo então a gestão da coisa pública) deve ser construída na vontade do povo e na observância as leis. Estes 120 anos de república no Brasil, foram marcados pela usurpação do patrimômio coletivo e na noção de que o Estado é um instrumento para obtenção de vantagens pessoais e individuais. Criando assim um paradoxo entre a teoria e a prática do que deve ser um governo republicano.
Desde o Governo de Deodoro da Fonseca, militar que simbolicamente liderou o processo que livrou o Brasil da Monarquia, muitas foram as vezes em que nossos governantes optaram pelo confronto com a legalidade. Vargas enraizou-se no Poder e dissolveu o Congresso para outorgar uma nova Constituição, que garantia sua permanência no poder.
A legalidade, base da República, foi várias vezes vilipendiada. Linhas sucessórias foram desrespeitadas, como no caso do vice de Jânio Quadros, João Goulart, impedido de assumir em 1961, após a renúncia do titular.
O povo brasileiro foi sempre relegado a segundo plano, não participou das decisões importantes, sua representatividade foi tolhida por medidas arbitrárias seja sobre as artimanhas Getulistas, ora ditatoriais ora constitucionais, ou sobre os terríveis Anos de Chumbo (1964-1985). As ditaduras marcaram profundamente nossa história, dos 42 Presidentes que tivemos, 15 foram militares.
Certo é que civis ou militares muitos atentaram contra a essência do republicanismo. No período compreendido entre 1889 e 2009 quem governou o Brasil não foram apenas Ditadores e individuos eleitos, alguns justos, outros aventureiros e uns tipos messiânicos. No Comando de nosso imenso Brasil estiveram também a corrupção e o patrimonialismo, que são outros nomes da usurpação do patrimônio coletivo e do uso do Estado para obtenção de vantagens individuais.
"O Golpe de Estado é a prática, aprendida na era do absolutismo, de negar os direitos públicos. Nesta arte, o Brasil é mestre."
Vivenciamos hoje um bom "surto" de democracia, o país avança na revolução social porém a marca dolorosa da corrupção e do clientelismo ainda galopa nesse imenso país, deixando marcas profundas em nosso povo. Precisamos nos conscientizar e forjar a participação popular,das massas, rompendo os modelos estabelecidos, barreiras e preconceitos, organizando a luta em prol de uma república de fato e de direito.
Precisamos arrancar o véu da alienação que coloca nossas vidas como satélites do dinheiro, tornando-nos uma massa inerte que baseia suas vidas no ter em vez de valorizar o ser. Incapazes de construir uma verdadeira República de sair da condição de marionetes e tornar-se verdadeiramente sujeitos do processo histórico.